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Manutenção e Manutenibilidade predial

Por: João Ribeiro, Engenheiro e Gestor do setor de Laudos e Consultoria

Por muitos anos, a manutenção predial foi entendida como uma etapa “desastrosa” da construção ou como uma fase que seria encarada apenas durante o uso da edificação por seus usuários. Foi com o advento da Norma de Desempenho, NBR 15575 (ABNT, 2013), que ela passou a ser vista como o capítulo final da etapa de projeto e também quando surgiu o conceito de manutenibilidade, que se traduz no grau de facilidade ou dificuldade da realização da manutenção de um sistema, elemento ou componente, para que ele mantenha seu comportamento em uso.

Segundo a NBR 5674 (ABNT, 2012), os tipos de manutenção existentes são:

● Manutenção Rotineira
● Manutenção Preventiva
● Manutenção Corretiva

Manutenção rotineira

Caracteriza-se por um fluxo de serviços relacionados ao uso dos usuários. Como, por exemplo, a limpeza geral e lavagem de áreas comuns.

 Manutenção preventiva

É toda e qualquer ação de manutenção realizada de forma prévia e periódica cujo objetivo seja evitar que determinado problema e/ou falha desencadeie e comprometa ainda mais o desempenho de determinado sistema. A manutenção preventiva é realizada sistematicamente e a frequência das atividades podem ser ocasionadas por:

Tempo: o sistema e/ou material passa por manutenção periodicamente quando atingir o tempo de uso de determinado em manual;

Condição: ocorre quando há constatação de sinais mínimos de que o sistema pode apresentar problema maior no futuro.

⮚ Manutenção corretiva

É feita imediatamente após a constatação e diagnóstico de um problema, a fim de permitir a continuidade de uso dos sistemas, elementos e/ou componentes das edificações, assim como evitar acidentes, incidentes e prejuízos patrimoniais aos usuários e proprietários.

Para o caso de edificações de múltiplos pavimentos, dependendo da gravidade do problema, a manutenção corretiva pode ser emergencial ou programada:

Emergencial: É a manutenção realizada após a falha da fundação do material ou sistema que coloca em risco a segurança dos usuários;

Programada: É a manutenção corretiva que é realizada de forma planejada para que o condomínio possa capitalizar seu caixa. Nesses casos, a falha foi detectada, porém não traz riscos iminentes de incidentes e acidentes.

Abaixo, exemplificamos onde se aplica a manutenção e manutenibilidade aos elementos massivos de fundação em concreto armado.

FONTE: Conteúdo desenvolvido por João Ribeiro, Engenheiro e Gestor do setor de Laudos e Consultoria
TECOMAT ENGENHARIA.
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Importância de um projeto de isolamento acústico em academias de edificações habitacionais.

Por: Ênio Remígio – Engenheiro do Núcleo de Acústica do Setor de Desempenho
Otávio Joaquim – Coordenador do Núcleo de Acústica do Setor de Desempenho

Seguindo o ritmo natural de desenvolvimento das cidades, as novas edificações habitacionais buscam trazer para a moradia espaços de convivência diversos como salões de festa, playgrounds, academias, co-workings, etc. Essa preocupação está aliada ao fato de as pessoas estarem passando mais tempo em casa, pois, com o ritmo acelerado dos trabalhos e da cidade, as pessoas estão optando pela praticidade e comodidade de ter o lazer perto de casa em vez de sair para buscá-lo e, assim, poupar tempo de locomoção e de espera. 

Em contrapartida, a localização desses ambientes pode transformar essa benfeitoria em uma dor de cabeça. Pois, imagine ser despertado pelo barulho dos pesos de academia no início de uma manhã, ou estar querendo um descanso após uma jornada de trabalho e, em casa, ouvir o barulho do salão de festas ou da piscina. Esses são exemplos clássicos de áreas comuns que, somados a outros, como crianças e pets correndo no apartamento acima, tornam-se um incômodo.

Devido a esses pontos, a norma ABNT NBR 15.575 foi desenvolvida, em 2013, com a intenção de avaliar as edificações em diversas matérias, dentre elas, a acústica. A iniciativa foi tomada de forma conjunta entre a sociedade civil, construtores e, também, institutos técnicos. Critérios e requisitos foram postos de forma clara e objetiva, buscando-se, assim, trazer diversos níveis qualitativos e estabelecer ao menos o mínimo de isolamento para todos os novos empreendimentos.

Afinal, o conforto do usuário vai além do atendimento mínimo estabelecido pela norma, o incômodo pode ser relativo entre as pessoas, mas há casos em que se torna unânime.  

A situação mais comum para ser exemplificada provém da proximidade da academia com as unidades habitacionais. É comum o relato de perturbação gerada tanto para os apartamentos que se encontram abaixo quanto acima da academia, inclusive com mais de um pavimento de distância.

E ao que se deve isso? Por que o som que é feito no piso de um ambiente consegue se propagar até diversos apartamentos que estão localizados acima?

Diferente de outros ambientes, como espaços gourmet, salões de festas, coworkings, brinquedotecas, entre outros, a academia é capaz de gerar ruídos de alto impacto com a queda de halter, pesos e equipamentos. Os ruídos de impacto se propagam pela estrutura da edificação, nesse caso específico, a vibração gerada é tão intensa que consegue atingir grandes distâncias.

A importância de um projeto de isolamento acústico não se atém apenas a solução de um problema vigente, se dá também na oportunidade de tratá-lo antes que aconteça, proporcionando intervenções menos incômodas e custosas. Trazendo de forma mais prática, é possível recomendar que se mude a localização de um ambiente ou soluções que desconectem o piso final da estrutura.

Para isso, é preciso avaliar, entre outros elementos, a estrutura da edificação, a localização e o tipo de uso dos ambientes, para que assim o projeto seja mais assertivo. Cada situação pede uma avaliação específica, não é fácil garantir o conforto do usuário, por isso é necessário testar e validar sistemas que garantam o desempenho esperado.

As soluções podem ser diversas, entre mais leves e mais robustas. Para tratamento do piso, hoje o mercado oferece mantas acústicas de materiais de diferentes tipos e performances, a possibilidade de fazer uso do sistema de piso elevado sobre molas ou a aplicação de amortecedores pontuais no tratamento específico de equipamentos, além do tratamento aplicado diretamente no forro.

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Alterações em guarda-corpos de prédios residenciais e suas implicações estruturais e de manutenibilidade

Por: Pedro Gois – Gestor de Desempenho
Débora Muniz – Diretora Técnica do Facilitat

É natural aos moradores de apartamentos desejar uma varanda ampla, um ambiente aberto e ventilado, ótimo para descansar e receber amigos. Contudo, também é muito comum que eles desejam realizar uma reforma de integração da sala de estar com a varanda, transformando tudo num cômodo único, amplo e fechado, com a possibilidade de climatização. Viemos chamar atenção nesse artigo para elementos que são impactados e precisam ser observados com muita responsabilidade na integração da varanda à sala: os guarda-corpos. 

Os guarda-corpos precisam atender aos requisitos de segurança da norma ABNT NBR 14718, comprovados através de ensaios específicos. Entretanto, numa integração da varanda com a sala, de forma geral, o guarda-corpo é transformado numa esquadria de piso a teto, ou seja, uma espécie de cortina de vidro. O ponto é que essa “cortina de vidro” deve ser dimensionada para atender solicitações adicionais à de guarda-corpos, como estanqueidade à água e resistência a cargas de vento e, portanto, deve atender aos requisitos da norma de esquadrias, ABNT NBR 10821. E isto pode não ter sido previsto e/ou pensado durante a reforma, onde um novo elemento gera um carregamento adicional que pode causar deformações excessivas e possíveis fissuras na estrutura.

A transformação do guarda-corpo numa esquadria de piso a teto também traz implicações do ponto de vista da manutenção preventiva. Na situação em que se mantém o guarda-corpo original instalado pela construtora na varanda, o proprietário deve seguir as recomendações estabelecidas no Manual de Uso, Operação e Manutenção entregue pela construtora, assim como as instruções dos fornecedores. Usualmente são recomendadas manutenções semestrais para realização de limpeza e verificação do estado de conservação do guarda-corpo que possibilite a identificação e o tratamento de pontos de ferrugem. 

Por isso, no momento que se modifica a configuração original do guarda-corpo, é preciso considerar a incorporação de novos elementos na manutenção preventiva, verificar se existe impacto nas condições de manutenibilidade e se é necessário alterar a periodicidade da manutenção em prol da segurança.

Além destes aspectos técnicos e de segurança, é importante observar as consequências no que diz respeito às garantias prediais, visto que, em geral, os Manuais estabelecem que qualquer tipo de mudança nos guarda-corpos podem implicar na perda da garantia fornecida pela construtora.

Reunindo todas essas questões, e a recorrência de reformas que preveem a integração da varanda à sala, é uma boa prática que que as construtoras, em conjunto com os projetistas e fornecedores dos guarda-corpos, prevejam esse tipo de alteração e especifiquem no manual de uso e operação e manutenção da edificação a forma adequada e segura de fazê-la. Essa instrução técnica certamente ajuda a evitar patologias e até acidentes que podem gerar prejuízos ao usuário e acionamentos pós-obra da construtora.

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A influência das portas no desempenho acústico das edificações

Por: Otávio Joaquim – Coordenador do núcleo de acústica
Pedro Gois – Gestor do Setor de Desempenho

O desempenho acústico das edificações, cujos requisitos e critérios são preconizados na NBR 15575, é função da isolação sonora dos diversos elementos que compõem a vedação, seja ela interna ou externa. No isolamento acústico das vedações verticais internas, a parede de separação entre os ambientes é o principal responsável pelo desempenho acústico, porém, aberturas e frestas em outras vedações ou nos elementos que as compõem, como portas e janelas, por exemplo, também podem comprometer significativamente o isolamento.

A NBR 15575 possui requisitos específicos para o conjunto de paredes e portas de unidades distintas separadas pelo hall, onde as portas de acesso aos apartamentos são, sem dúvidas, as maiores vilãs na perda de isolamento acústico. Elas também possuem forte influência no desempenho das paredes de geminação quando estão posicionadas lado a lado, pois o som “contorna” a parede pelas aberturas, reduzindo o isolamento acústico mesmo que a parede possua um bom desempenho.

O índice de isolação sonora (Rw) da porta, parâmetro obtido em ensaio de laboratório, é utilizado na predição do isolamento acústico das vedações, permitindo avaliar se a porta indicada em projeto garantirá o desempenho estimado. Contudo, as condições de realização do teste em laboratório devem ser fielmente reproduzidas em campo, uma vez que aberturas existentes em decorrência de falhas na execução reduzirão o desempenho da porta e os resultados previstos não serão obtidos. Como exemplo deste caso, temos: portas empenadas, portas desreguladas ou fixação por estuma expansiva sem preenchimento total do vão.

Logo, torna-se fundamental na avaliação de desempenho acústico das portas de entrada das unidades habitacionais no momento da compra, e a realização do ensaio em campo após instalação dos componentes, pois caracteriza as condições reais de utilização. Falhas e aberturas não previstas na fase de projeto poderão ser identificadas e tratadas a partir do ensaio de campo.